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Oxóssi a Luz da Kabbalah

Okê Arô Oxóssi, o Orixá das Matas.

Para nos situarmos, vamos pincelar o que nos dizem alguns grandes autores sobre Oxóssi

Oxossi— Pierre Verger

Osoosì na África

Oxóssi, o deus dos caçadores, teria sido o irmão caçula ou filho de Ogum. Sua importância deve-se a diversos fatores.

– O primeiro é de ordem material, pois, como Ogum, ele protege os caçadores, torna suas expedições eficazes, delas resultando caça abundante.

– O segundo é de ordem médica, pois os caçadores passam grande parte do seu tempo na floresta, estando em contato freqüente com Ossain, divindade das folhas terapêuticas e litúrgicas, e aprendem com ele parte do seu saber.

– O terceiro é de ordem social, pois normalmente é um caçador que, durante suas expedições, descobre um lugar favorável à instalação de uma nova roça ou de um vilarejo. Torna-se assim o primeiro ocupante do lugar e senhor da terra (oníle), com autoridade sobre os habitantes que aí venham a se instalar posteriormente.

– O quarto é de ordem administrativa e policial, pois antigamente os caçadores (ode) eram únicos a possuir armas no vilarejo, servindo também de guardas-noturnos (oso).

— No Candomblé

Oxóssi é o Orixá da fartura, o sustento, está nas refeições, pois é quem provê o alimento. É a ligeireza, a astúcia, a sabedoria, o jeito ardiloso para faturar sua caça. É um Orixá de contemplação, amante das artes e das coisas belas.  É o caçador de axé, aquele que busca as coisas boas para um Ilê, aquele que caça as boas influências e as energias positivas.

— Na Umbanda – Rubens Saraceni

É o caçador por excelência, mas sua busca visa o conhecimento. Logo, é o cientista e o doutrinador, que traz o alimento da fé e o saber aos espíritos fragilizados tanto nos aspectos da fé quanto do saber religioso.

— Na Umbanda – Francisco Rivas Neto

A vibração de Oxóssi reflete o Princípio Envolvente em Ação e suas reflexivas – as Reações.  É o Catequizador das Almas, A Doutrina em Ação, que pretende envolver a todos para o entendimento da Lei Divina. É o caçador de Almas desgarradas, e como caçador, procura arrebanhar almas desgarradas para futuramente formar um só rebanho.

Isto posto, podemos “caçar” alguma coisa na Árvore da Vida.

Kaballah-OxossiTítulo: Chesed, Misericórdia.Na Árvore da Vida, Oxóssi está relacionado à 4ª esfera: Chesed.

Imagem mágica: Um poderoso rei coroado, sentado em seu trono.

Texto Yetzirático: O Quarto Caminho chama-se Inteligência Coesiva ou Receptiva, porque contém todos os Poderes Sagrados, dele emanando as virtudes espirituais com as suas essências mais requintadas.

Títulos Conferidos a Chesed: Gedulah. Amor. Majestade.

Virtude: Obediência.

Vícios: Fanatismo. Hiprocrisia. Gula. Tirania.

Então já podemos começar a pensar e alinhar os conceitos.

Quanto a posição na Árvore

Kaballah_Ogum_OxossiOxóssi aparece em muitas lendas africanas como irmão de Ogum.  Na Árvore da Vida são associados a esferas vizinhas, Oxóssi/Chesed e Ogum/Gebura.  Esse “parentesco” com Ogum significa o equilíbrio que um promove ao outro.  As imagens mágicas que simbolizam essas esferas são ambas de reis; a de Chesed/Oxóssi é um rei em seu trono, e a de Geburah/Ogum, um rei em seu carro; em outras palavras, os governantes do reino na paz a na guerra; um como legislador, outro como guerreiro.  O título de Chesed/Oxóssi é Misericórdia e o de Geburah/Ogum é Severidade; um equilibra o outro.  Isto pode ser observado na seguinte lenda, em que nos é mostrado Oxóssi despertar a Misericórdia (sentimento de compaixão, despertado pela desgraça ou pela miséria alheia) em Ogum:

“Oxóssi é irmão de Ogum. Ogum tem pelo irmão um afeto especial. Num dia em que voltava da batalha, Ogum encontrou o irmão temeroso e sem reação, cercado de inimigos que já tinham destruído quase toda a aldeia e que estavam prestes a atingir sua família e tomar suas terras. Ogum vinha cansado de outra guerra, mas ficou irado e sedento de vingança. Procurou dentro de si mais forças para continuar lutando e partiu na direção dos inimigos. Com sua espada de ferro pelejou até o amanhecer.

Quando por fim venceu os invasores, sentou-se com o irmão e o tranqüilizou com sua proteção. Sempre que houvesse necessidade ele iria até seu encontro para auxiliá-lo. Ogum então ensinou Oxóssi a caçar, a abrir caminhos pela floresta e matas cerradas. Oxóssi aprendeu com o irmão a nobre arte da caça, sem a qual a vida é muito mais difícil. Ogum ensinou Oxóssi a defender-se por si próprio e ensinou Oxóssi a cuidar da sua gente. Agora Ogum podia voltar tranqüilo para a guerra.”

Equilíbrio

Esta lenda mostra claramente a Severidade agindo pela Misericórdia, mostrando que, ainda que sutilmente, ambas se equilibram.  Severidade sem Misericórdia se transforma em crueldade.  Da mesma forma, Misericórdia sem Severidade pode sufocar.

A Inteligência Coesiva ou Receptiva

Lembremos o que nos disse Pierre Verger: “O terceiro fator é de ordem social, pois normalmente é um caçador que, durante suas expedições, descobre um lugar favorável à instalação de uma nova roça ou de um vilarejo. Torna-se assim o primeiro ocupante do lugar e senhor da terra (oníle), com autoridade sobre os habitantes que aí venham a se instalar posteriormente.” 

Curiosamente, encontramos o seguinte texto de Dion Fortune sobre Chesed: “Chesed representa a formulação da idéia arquetípica, a concretização do abstrato. Quando o princípio abstrato que forma a raiz de alguma nova atividade é formulado em nossas mentes, estamos operando na esfera de Chesed. Um exemplo esclarecerá esse ponto. Suponhamos que um explorador contemple, do alto de uma montanha, uma região recentemente descoberta e comprove que as planícies que se estendem para além da costa são férteis e que são cortadas por um rio que abre caminho até o mar através de um vale na cadeia de montanhas. Ele pensa na riqueza agrícola das planícies, nas facilidades de transporte que o rio oferece a imagina um porto no estuário, pois sabe que o escoadouro do rio forma, com toda certeza, um canal que permitiria a passagem dos navios. Em seu olho mental, ele vê os ancoradouros, os armazéns, as lojas a as habitações. Pergunta a si mesmo se as montanhas contêm minérios e imagina uma estrada de ferro ao longo do rio a com ramificações pelos vales. Vê a chegada dos colonizadores e deduz que eles terão necessidade de uma igreja, um hospital, um cárcere, o ubíquo botequim. Sua imaginação traça a rua principal da cidade, e resolve adquirir os terrenos das esquinas para que possa prosperar, ele mesmo, com a prosperidade geral da nossa cidade. Ele vê tudo isso enquanto a floresta virgem cobre a costa e fecha as passagens da montanha. Mas, como sabe que as planícies são férteis e que o rio cruza as montanhas, ele contempla em termos de primeiros princípios os desenvolvimentos que se farão necessários. Enquanto sua mente assim opera, ele está funcionando na Esfera de Chesed, saiba-o ele ou não; e todos aqueles que podem também funcionar nos termos de Chesed, adiantando-se ao futuro, como o faz o explorador de nosso exemplo, vendo as coisas que devem surgir de causas dadas, muito antes de a primeira linha ser traçada no projeto ou o primeiro ladrilho ter sido assentado, têm o poder de possuir a valiosa terra onde os ancoradouros deverão ser construídos e por onde deverá correr a rua principal.”

Todo trabalho criativo do mundo segue esse curso, graças às mentes que operam nos termos de Chesed, o rei sentado em seu trono, sustendo o cetro e o orbe, governando e guiando seu povo.  É desta forma que a Fonte Inesgotável do Criador começa a fluir em nossas mentes.  Por isso é intitulado “O Princípio Envolvente em Ação” – Rivas Neto e “O Orixá do Conhecimento” – Rubens Saraceni.  Esta é uma outra visão que podemos ter do alimento, ou da forma como Oxóssi alimenta a família.

O que significam as matas?  Talvez um lugar ainda virgem da Criação Divina? Talvez caçar seja receber as idéias arquetípicas da Emanação Divina e concretizar idéias abstratas análogas?  Seria esse o significado oculto do caçador?  Lembremos que embora seja Oxóssi quem alimenta a família, ele não planta nem cria animais, apenas colhe e caça nas matas.  É exatamente essa a idéia de Inteligência Coesiva ou Receptiva.  Podemos então entender desta forma a Emanação Divina através do Orixá Oxóssi.

Um pouco aquém do Orixá – Assim na Terra como no Céu

[quote]Caboclo Roxo da pele morena

Ele é Oxóssi, caçador lá na Jurema [/quote]

Como é sabido, a Umbanda nasceu em meio a um cenário religioso formado pelo Catolicismo, Kardecismo, Candomblé e diversos cultos Indígenas, entre eles o culto a Jurema Sagrada ou Catimbó.  Neste ponto, nos interessa especialmente o Catimbó, que muito se parece e influenciou a Umbanda.

O Catimbó ou Culto à Jurema Sagrada, anterior a Umbanda, é resultado da fusão da pratica original indígena (Palelança) com o Catolicismo (desde a época do descobrimento) com influências do Kardecismo, Cultos Africanos e outros conhecimentos Europeus.

O culto tem por base um sistema mitológico no qual a jurema é considerada árvore sagrada* e, em torno dela, dispõe-se o “Reino dos Encantados” ou “Juremá”, formado por cidades, que por sua vez são habitadas pelos Encantados, Mestres e Caboclos.

*(O culto à árvore da Jurema remonta a tempos imemoriais, anteriores, inclusive à colonização portuguesa na América.)

O Mestre é a entidade espiritual central da Jurema nordestina. Os Mestres são falecidos juremeiros que detinham os conhecimentos de sua prática. Segundo Mário de Andrade, no século XVII, em Portugal, os feiticeiros curadores eram chamados de Mestres. Nas cerimônias da Jurema, também se denomina mestre o dirigente de uma sessão. Os Mestres vivos incorporam os Mestres mortos que habitam as cidades sagradas da Jurema, ligando esses dois mundos por meio do transe. Os Mestres seriam espíritos curadores que, em vida, conheceram os segredos das plantas curativas e que são convocados para trabalharem em uma sessão, a fim de aliviar os sofrimentos humanos.

Pois bem, vejamos a semelhança com o que diz Dion Fortune

Um papel muito importante e muito mal-compreendido nos Mistérios é o desempenho pelos seres chamados geralmente de Mestres. Escolas diferentes definem o termo de maneira diferente e alguns incluem os adeptos vivos de alto grau entre os Mestres (enquanto outros, apenas os desencarnados). Uma parte muito importante do trabalho dos Mestres é a concretização das idéias abstratas concebidas pela Consciência Logoidal. O Logos**, cuja meditação dá nascimento aos mundos e cuja consciência reveladora é evolução, concebe as idéias arquetípicas extraídas da substância do Imanifesto – para utilizar uma metáfora, já que a definição é impossível. Essas idéias permanecem na consciência cósmica do Logos assim como na flor, porque não há solo para a sua germinação. A Consciência Logoidal, enquanto ser puro, não pode, de seu próprio plano, fornecer o aspecto formativo necessário para a sua manifestação. Ensinam as tradições esotéricas que os Mestres, consciências desencarnadas disciplinadas pela forma, mas atualmente informes, em sua meditação sobre a divindade, são capazes de perceber telepaticamente essas idéias arquetípicas na mente de Deus e, compreendendo a aplicação prática destas aos planos da forma e a linha que esse desenvolvimento seguirá, produzir imagens concretas em sua própria consciência, que serve para trazer as idéias arquetípicas abstratas ao primeiro dos planos da forma, chamado pelos cabalistas de Briah. Essa é, pois, a tarefa que os Mestres realizam em sua Esfera especial, a Esfera de Chesed, organizadora, construtiva a edificadora, no Pilar da Misericórdia. O ponto de contato entre os Mestres e os seus discípulos humanos está em Hod, a Sephirah da Magia Cerimonial (Exú, mas isso é assunto para outro dia), conforme indica o Texto Yetzirático.”

Então…estávamos falando do caçador, que vai às matas para alimentar a família…

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**Logos (em grego λόγος, palavra), no grego, significava inicialmente a palavra escrita ou falada—o Verbo. Mas a partir de filósofos gregos como Heráclito passou a ter um significado mais amplo. Logos passa a ser um conceito filosófico traduzido como razão, tanto como a capacidade de racionalização individual ou como um princípio cósmico da Ordem e da Beleza.

Na teologia cristã o conceito filosófico do Logos viria a ser adaptado no Evangelho de João, o evangelista se refere a Jesus Cristo como o Logos, isto é, a Palavra: “No princípio era a Palavra, e a Palavra estava com Deus, e a Palavra é Deus” João 1:1 

(Há traduções do Evangelho em que Logos é o “Verbo”). O Logos também pode ser visto como o “Motivo” de todas as coisas, sendo a causa que explica o anseio existencial humano tão discutido pela filosofia.**

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Fontes

“Cabala Mística” – Dion Fortune

“Orixás” de Pierre Fatumbi Verger

“Código de Umbanda” – Rubens Saraceni

“Umbanda – A Proto-síntese Cósmica” – Francisco Rivas Neto

“Revista História Viva”, vol. 6 – Cultos Afro. São Paulo: Ediouro, 2007

“Os Orixás e a Kabbalah” – http://www.deldebbio.com.br

“Jurema, a Árvore Sagrada” – http://ocandomble.wordpress.com

Imagem Oxóssi – Sinuous Magazine – James C. Lewis

Wikipédia – **Logos

 

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